Maria Eduarda morreu aos 13 anos durante uma operação da PM em 2017, enquanto tinha aula de educação física na Escola Municipal Jornalista Daniel Piza, em Costa Barros. De acordo com o MP, os policiais assumiram o risco de causar a morte ao fazer vários disparos de fuzil na direção da escola. Morte da menina Maria Eduarda completa 6 anos e família ainda espera desfecho do processo
Seis anos após a morte da estudante Maria Eduarda, a família ainda aguarda o desfecho do julgamento dos policiais acusados de envolvimento no crime. A adolescente foi alvo de tiros de fuzil enquanto tinha aula de educação física na Escola Municipal Jornalista Daniel Piza, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio.
Os parentes da jovem também esperam pelo pagamento da indenização que a família tem direito.
‘Todo dia morre um’, diz mãe de menina morta em escola de Acari
PMs viram réus pela morte de Maria Eduarda
Apesar do tempo de espera, a Justiça ainda não começou a julgar a participação dos PMs Fábio de Barros Dias e David Gomes Centeno no caso. Os dois respondem por homicídio doloso, quando há intensão de matar. A próxima audiência de instrução e julgamento está marcada para o dia 31 de julho, quando o juiz vai ouvir as testemunhas de defesa e de acusação.
Para a família da jovem assassinada, o luto pela morte é constante. Uidson Alves, irmão de Maria Eduarda, contou ao RJ1 como é difícil viver sem uma solução para esse caso.
“O nosso luto é diário. Todo dia nós vivemos um luto, mas o dia 30 é o dia que eu não trabalho, que eu não quero sair de casa, é o dia que eu não faço nada. É o dia mais sofrido do ano. É o dia que a gente lembra da Maria Eduarda”, recordou o irmão.
Maria Eduarda foi morta no pátio da escola em que estudava, no Rio
Reprodução/TV Globo
Para o irmão de Duda, como Maria Eduarda era conhecida, a maior revolta é a falta de apoio psicológico para a família.
“O estado não deu nenhum apoio psicológico, nenhum financeiro, de nada. Eu sinto que já não tô bem de cabeça, minhas irmãs todas com depressão, inclusive eu, o pai, muito doente. Ou seja: acabaram com a nossa filha, nossa irmã e ainda acabaram com a nossa vida estando vivo ainda”, reforçou Uidson.
Maria Eduardo foi morta aos 13 anos, por volta das 16h30, durante uma operação da polícia militar na favela de Acari, na Zona Norte do Rio, no dia 30 de março de 2017, quando policiais militares trocavam tiros com traficantes.
O Ministério Público afirma que os PMs assumiram o risco de matar Maria Eduarda porque atiraram várias vezes de fuzil na direção da escola.
Reconstituição da morte da jovem Maria Eduarda dura quatro horas
Fábio de Barros Dias e David Gomes Centeno também respondem por mais duas mortes naquele dia. Um dos mortos foi executado quando estava ferido, caído no chão. O assassinato foi gravado por um morador e as imagens da execução rodaram o mundo.
A jovem baleada cursava o 7º ano do ensino fundamental e sonhava em ser jogadora de basquete. Maria Eduarda morava com a mãe e as duas irmãs em Acari, no mesmo bairro onde fica a escola.
Maria era a caçula da família e ganhou muitas medalhas nos campeonatos estudantis que jogou.
“A Maria Eduarda era muito alegre, criada nos princípios evangélicos, [religião] que minha mãe é. Uma menina que batia pandeiro na igreja, cultuando Deus, estudava, praticava esporte, tinha mais de 10 medalhas. Ela era uma esperança pra nossa vida de pobre”, contou Uidson.
Briga por indenização
Apesar de já condenado em duas instâncias e responsabilizado pela morte de Maria Eduarda, o estado do Rio de Janeiro ainda não começou a pagar a indenização que a família tem direito.
Na decisão da Justiça, o juiz entendeu que a família tinha direito a uma indenização no valor de R$ 280 mil para o pai e R$ 280 mil para a mãe de Maria Eduarda. Além disso, cada um dos três irmãos também teria direito a receber R$ 45 mil como indenização.
Os pais da jovem também receberam o direito de dividir uma pensão mensal no valor de dois terços do salário mínimo até 2029, quando Maria Eduarda completaria 25 anos. A partir dessa data, a pensão a ser dividida por eles passa a ser no valor de um terço do salário mínimo.
Vídeo mostra suposta execução por PMs em Acari, no Rio
Em relação ao valor da indenização, os advogados que defendem os interesses da família de Duda entraram com um recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para aumentar o valor a ser pago para os parentes de Maria Eduarda.
“A família até hoje não recebeu qualquer tostão de indenização. O Estado foi condenado, é um reconhecimento que foi a barbárie que a policia praticou atirando pra dentro de uma escola cheia de criança. Mas os valores são diminutos. É importante que o STJ, que se diz um tribunal da cidadania, reveja esses valores para fazer condenações dignas para a família”, comentou o advogado João Tancredo, representante da família no processo.
Depois da morte de Maria Eduarda, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro disse ter aplicado protocolos que garantem mais segurança a alunos e funcionários.
“A gente promove treinamentos para oferecer respostas seguras frente a situações de violência, especialmente ali com o objetivo de mitigar o efeito da violência e assegurar o direito à educação dos nossos alunos”, disse Hugo Nepomuceno, subsecretário de integração da Secretaria Municipal de Educação.
O que dizem os envolvidos
Em nota, a Procuradoria Geral do Estado disse que o processo ainda não foi concluído, e que a família entrou com recurso no Superior Tribunal de Justiça pedindo aumento no valor da indenização.
A Polícia Militar informou que o procedimento apuratório interno relativo ao caso já foi remetido ao Ministério Público da Auditoria da Justiça Militar e os envolvidos seguem respondendo à Justiça.
Segundo a corporação, os policiais acusados pela morte de Maria Eduarda estão afastados dos trabalhos nas ruas.