Saudade, mudanças e busca por respostas marcam cinco anos das mortes de Marielle e Anderson

Mônica Benício, Marinete da Silva e Ágatha Arnaus conversaram o g1. Elas falaram sobre a esperança com novas frentes de investigação e o que mudou na vida das pessoas próximas às vítimas do crime que chocou o país em 2018. 5 anos sem Marielle e Anderson: a dor da ausência
As mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes causaram impactos definitivos nas vidas dos familiares. Em meio à busca por respostas sobre quem mandou matá-los e quais as motivações do crime, são muitos sentimentos e muitas mudanças depois de cinco anos da noite de 14 de março.
Mônica Benício, viúva de Marielle Franco; Marinete da Silva, mãe da vereadora; e Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, conversaram com g1 sobre os 1825 dias após as mortes.
A primeira delas, que assumiu um cargo de vereadora após concorrer em 2020, no ano que poderia ter sido a reeleição de Marielle, definiu quais são as palavras que definem esses cinco anos.
“Eu acho que a primeira delas é dor, que dialoga tanto com o contexto político quanto com o contexto pessoal, que também reflete na palavra saudade, que também reflete na palavra indignação, que também reflete na palavra revolta, raiva, todos esses sentimentos que compõem as fases do luto”.
Agatha Arnaus, viúva do motorista que acompanhava Marielle, contou que teve que cuidar sozinha do filho Arthur, de seis anos.
Ele foi diagnosticado com cinco alterações genéticas que afetaram seu desenvolvimento. Ágatha teve que cuidar da criação do filho sem o companheiro de muitos anos.
“Eu tive que passar por tanta coisa que eu não imaginava que eu sinto que tivesse vivido duas vidas nessa vida. Quem eu sou hoje começou a ser construído na noite que eles morreram”, refletiu Ágatha.
“É uma mutilação dentro de uma família”, definiu dona Marinete da Silva, mãe de Marielle.
Esperança
5 anos sem Marielle e Anderson: as mudanças nas investigações
Em janeiro, o ministro Flávio Dino afirmou que a resolução do inquérito que investiga da morte de Marielle e Anderson Gomes era uma “questão de honra”:
“Eu disse à ministra Anielle e a sua mãe que é uma questão de honra do Estado brasileiro empreender todos os esforços possíveis e cabíveis, e a Polícia Federal assim atuará, para que esse crime seja desvendado definitivamente e nós saibamos quem matou Marielle e quem mandou matar Marielle Franco naquele dia no Rio de Janeiro”, afirmou o ministro.
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão presos pela acusação de duplo homicídio contra Marielle e Anderson. Até hoje, não foram levados a julgamento.
“Eu posso dizer que, em cinco anos, foi uma declaração que trouxe pela primeira vez a sensação de esperança real na elucidação desse caso”, disse Mônica Benício.
“A gente não queria estar esperando por todo esse tempo. Mas eu sempre digo que a fala do Flávio Dino foi muito simbólica. Toda ajuda será bem-vinda e eu espero que a gente consiga sim avançar, não importa por onde, que a gente consiga chegar no mandante”, disse Anielle Franco, em agenda no Rio na última quinta-feira (9).
A ministra Anielle Franco falou sobre os cinco anos do caso em uma agenda do último dia 9
Henrique Coelho/g1 Rio
Saudade
Cinco anos depois, Ágatha Reis segue acompanhando o crescimento de Arthur. Ela diz que o filho, pelos problemas de desenvolvimento, não entende totalmente o que aconteceu com o pai, Anderson. Mesmo assim, ela afirma que tenta passar todo o amor que ele tinha pela criança.
“Eu percebo que até quando ele olha foto do Anderson, ele reconhece, de alguma forma. Eu tenho hábito de mostrar vídeos e fotos e mostrar quem é o papai”, disse Agatha.
Agatha em foto com Anderson: ‘É muito complicado você ter que mudar sua vida toda de uma hora para outra”, lamenta.
Divulgação/Arquivo Pessoal
Marinete, após a reunião com promotores do Ministério Público, lembrou de alguns momentos passados com a filha, principalmente na fé católica praticada pela família.
“Essa semana a gente esteve na igreja onde a gente frequentava. E a gente ficou olhando para aquele lugar, o lugar que Marielle sempre chegava atrasada”, contou.
Marielle, na ponta direita, comemorando o Dia das Mães do ano passado com as mulheres da família – da esquerda para a direita, sua irmã, Anielle Silva, sua sobrinha e afilhada, Mariah, sua filha, Luyara, e sua mãe, Marinete da Silva
Arquivo pessoal
Segundo ela, mesmo com a vida atarefada, Marielle fazia questão de estar na missa dominical com a família em Bonsucesso, onde foi criada, na Zona Norte do Rio.
“Depois disso, era sacolão, um bom café da manhã, às vezes ficava para o almoço. E faz muita falta”, recordou, com saudade, a mãe de Marielle.
Mônica Benício exibe tatuagem em homenagem a Marielle Franco em 2018
Marcos Serra Lima/G1
Mônica Benício diz que sente falta de dividir a vida com Marielle, e relatou em qual momento do dia costuma lembrar da ex-companheira:
“O primeiro momento é sempre o momento da manhã, primeiro porque é o momento que eu me dedico a fazer as minhas orações”, disse ela.
“É também uma falta diária, constante, de querer dividir os problemas da vida, de poder reclamar, de reclamar para ser ouvida”, relembrou Mônica, antes de ser interrompida pela emoção.
Impacto
5 anos sem Marielle e Anderson: as mudanças na vida
Mônica disse que, com a morte da ex-companheira, precisou inventar uma nova versão de si mesma, e explicou por que se enveredou pela política para fazer justiça a memória da ex-companheira, “negra, favelada, representante LGBT e socialista”.
“Entendo que ‘Justiça por Marielle’ é você transformar o mundo e construir ele ao modo como a Marielle via e lutava para construir”, exemplificou.
“Se a gente pode ver alguma beleza no meio do caos, é enxergar que não só a vida da Marielle não foi em vão, mas como a morte também não será”, definiu.
Corpo da vereadora Marielle Franco chega para o velório na Câmara Municipal do Rio em 2018
Foto de Marielle Francoexposta diante da prefeitura de Paris, onde foi realizado o protesto um mês após o assassinato da vereadora
RFI/Paloma Varón
“Marielle é uma referência que ultrapassa as fronteiras do Brasil, é um ícone de resistência. Que a semente, que o legado que a gente traz siga também esse exemplo”, finalizou a mãe de Marielle, dona Marinete.
Protesto lembra mortes de Marielle e Anderson em março de 2018
Marco Serra Lima/G1
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14/03/2023 03:00

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