Metade das crianças apareceram na EMEI Patrícia Galvão, no Centro da cidade, no primeiro dia de paralisação. Nesta sexta, a evasão escolar foi menor. EMEI Patrícia Galvão
Claudia Castelo Branco
Nos quase dois dias de greve do Metrô, quatro professoras gastaram o dobro de dinheiro para chegar à Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Patrícia Galvão, no Centro de São Paulo. Localizada em frente a praça Roosevelt, nenhuma das educadoras mora nas proximidades.
Elas compartilhavam um bolo de cenoura numa pequena sala e falavam sobre como este hábito simples – comemorar o aniversário de uma colega – trazia a sensação de acolhimento. “Virou um hábito sempre que algum educador aniversaria”.
Professoras compartilham bolo enquanto aguardam alunos
Claudia Castelo Branco
Mesmo com o Uber custando o dobro, Lucia Chitko, diretora da escola, não reclamou. Para ela, o importante era garantir que as crianças fossem bem recebidas. A unidade atende cerca de 286 alunos entre 4 e 5 anos de idade, mas no primeiro dia da greve do Metrô apenas metade das crianças apareceram. Ao fundo, embora baixo, foi possível escutar o barulho das últimas crianças do turno da manhã.
“A evasão hoje foi menor”, observou a professora Andrea Gimenez. Ela mora na região do Ipiranga e atravessa a cidade para chegar ao Centro. Ficou sabendo da greve na noite anterior. “Tentei entrar no ônibus, mas estava muito cheio. Num dia normal chego em uma hora. Na quinta cheguei às 9h”. A professora Luana Guarany observou que o preço das corridas nesta sexta-feira estava mais baixo. De R$ 80 passou para R$ 32. Ao g1, disse que a filha, estudante de enfermagem e usuária do Metrô, perdeu aula. “ Seus colegas também”.
Afastaram de imediato a possibilidade de qualquer pressão para estarem presentes. “Pressão, não. É responsabilidade. A gente trabalha com criança e este é o nosso compromisso”, afirmou a diretora.
Os metroviários voltaram ao trabalho no início da tarde desta sexta, após acordo com o governo.
Escola com história
A EMEI Patrícia Galvão foi criada em janeiro de 1970 e estava instalada em outro local devido às obras de revitalização da Praça Roosevelt. Com a conclusão da reforma, a unidade voltou a funcionar em 2012 na comunidade no que antes era um casarão antigo. É uma escola totalmente acessível com banheiro adaptado e rampa de acesso. No muro, chama a atenção uma arte urbana com quatro crianças exercendo seu direito de brincar e aprender.
Área externa da EMEI Patrícia Galvão
Claudia Castelo Branco
Direito à educação infantil
Em outubro de 2022 o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que toda criança tem direito a vaga em creche ou pré-escola. A decisão foi um avanço para que o direito à educação infantil, já previsto na Constituição, seja efetivado em todo o país. O julgamento no STF teve repercussão geral, ou seja, estabeleceu um parâmetro que deverá orientar as demais decisões da Justiça brasileira, em qualquer instância, sobre o tema.
De acordo com o Supremo, a educação infantil, em creches (para crianças de 0 a 3 anos) e pré-escolas (4 e 5 anos), faz parte da educação básica e é direito fundamental de todas as crianças, “assegurado por normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta e imediata”. Logo, é dever do poder público, notadamente das prefeituras, oferecer as vagas necessárias à concretização desse direito fundamental. O STF reconheceu ainda o direito das famílias de acionar a Justiça, em ações individuais, quando a matrícula for negada.