Primeiro-ministro de Israel adia reforma do Judiciário, após protestos e greve geral

Na prática, as medidas seriam capazes de ajudar Benjamin Netanyahu a escapar das acusações de corrupção que ele enfrenta. Primeiro-ministro de Israel recua diante de protestos que se repetem diariamente no país
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recuou, diante dos protestos que se repetem diariamente em Israel, e anunciou o adiamento da reforma que enfraquece a mais alta instância do Poder Judiciário.
Os protestos nas ruas, em Tel Aviv e Jerusalém, chamaram a atenção do mundo todo. Milhares de pessoas marcharam perto do Parlamento israelense com bandeiras do país.
Um senhor mandou um recado para o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu: “Você está trazendo a um sobrevivente do Holocausto memórias terríveis. Vamos conversar antes que seja tarde.”
A mensagem de um outro israelense foi para o planeta: “Mundo, ouça. Vamos lutar por essa democracia.”
Uma greve geral colocou ainda mais pressão. A maior central sindical de Israel, que representa mais de 700 mil trabalhadores, convocou a paralisação.
No principal aeroporto do país, pousos e decolagens foram cancelados. Universidades, bancos, lojas e até hospitais interromperam os serviços.
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O maior sindicato de Israel orientou também os funcionários das missões diplomáticas israelenses no mundo todo a cruzarem os braços. Foi o que aconteceu, por exemplo, na embaixada do país para a ONU, em Genebra. O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos já tinha expressado preocupação com a reforma do Judiciário por lá.
Críticos classificam o projeto como uma ameaça à democracia. A reforma proposta pelo governo de Netanyahu pretende permitir que uma maioria simples do Parlamento anule decisões da Suprema Corte e também dá mais poder ao governo para nomear os juízes do tribunal. Na prática, as medidas seriam capazes de ajudar o primeiro-ministro a escapar das acusações de corrupção que ele enfrenta.
Netanyahu nega qualquer irregularidade e insiste que o objetivo é restaurar o equilíbrio entre os poderes.
O clima nas ruas esquentou no domingo (26), quando o premiê demitiu o ministro da Defesa, contrário à reforma.
Nesta segunda-feira (27), o governo sobreviveu a uma moção de censura no Parlamento. Mas, diante da pressão, Netanyahu decidiu ceder. Ele prometeu dar um tempo ao diálogo e anunciou que a tramitação da reforma vai ficar para depois do recesso, que termina no fim do mês que vem.
“Para evitar dividir a nação, decidi adiar para chegar a um amplo consenso”, explicou.
Governos como o do Reino Unido e dos Estados Unidos elogiaram o adiamento da decisão.
”Mudanças fundamentais num sistema democrático devem ter a base mais ampla possível de apoio popular”, afirmou a porta-voz da Casa Branca.
Em Israel, depois do anúncio de Netanyahu, a central sindical interrompeu a greve, mas a multidão continuou nas ruas. O adiamento da reforma não foi suficiente para calar milhares de pessoas. Houve confronto quando a polícia tentou desbloquear uma rodovia. Forças de segurança usaram jatos d’água para dispersar os manifestantes.

28/03/2023 00:40

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