Segundo a Anistia Internacional, situação na América Latina se deteriorou nos últimos meses. A resposta do Ocidente à invasão russa à Ucrânia expôs em 2022 seu “padrão duplo” em relação aos abusos dos direitos humanos no mundo, criticou nesta terça-feira (27) a ONG Anistia Internacional (AI), que alertou para a deterioração da situação na América Latina.
O relatório anual da AI sobre os direitos humanos no mundo denuncia o silêncio dos países ocidentais em 2022 sobre a situação na Arábia Saudita, a repressão no Egito e o tratamento de Israel aos palestinos.
“A resposta formidável do Ocidente à invasão russa à Ucrânia destacou um padrão duplo, expondo, em comparação, o quão insignificantes foram suas reações a tantas outras violações da Carta da ONU”, declarou Agnes Callamard, secretária-geral da Anistia.
Muitos países impuseram sanções a Moscou e abriram suas fronteiras para os refugiados ucranianos, e o Tribunal Penal Internacional (TPI) lançou uma investigação sobre crimes de guerra que o levou a pedir a prisão do presidente russo, Vladimir Putin. Esta resposta contrasta com a reação a outras situações, como na Arábia Saudita, onde pessoas são presas por sua opinião e 81 homens foram condenados à morte em um único dia.
Os Estados Unidos, que acolheram dezenas de milhares de ucranianos, expulsaram mais de 25 mil haitianos entre setembro de 2021 e maio de 2022, após submeterem “muitos deles a tortura e outros maus-tratos”, afirmou Callamard.
“Interesses individuais” de membros de instituições globais e regionais também impediram uma resposta adequada a conflitos onde milhares de pessoas perdem a vida, como na Etiópia, em Mianmar e no Iêmen, segundo a organização.
Deterioração na América Latina
No momento em que se completa neste ano o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que nasceu no fim da Segunda Guerra Mundial, a AI denuncia um retrocesso em todas as regiões do mundo.
“Na América Latina, vimos uma deterioração da proteção dos direitos, principalmente o direito de se manifestar, de ter opiniões diferentes”, disse Callamard, citando o caso do Peru.
Desde a queda do presidente peruano, Pedro Castillo, no fim de 2022, 54 pessoas morreram em protestos. A Justiça investiga sua sucessora, Dina Boluarte, para apurar sua responsabilidade nas mortes.
“Em vários casos, a resposta das autoridades aos protestos se traduziu em violações dos direitos humanos, incluindo o uso ilegítimo da força, especialmente contra a população indígena e camponesa”, apontou a organização.
“Os povos indígenas são os primeiros a serem afetados por esta repressão, seja no México, no Peru ou na Colômbia”, afirmou Callamard.
O relatório de 2022 também alerta para a violência contra as mulheres — principalmente no México, que registrou centenas de feminicídios “facilitados pela impunidade” — e para a discriminação sofrida por refugiadas venezuelanas em Colômbia, Equador e Peru.
Em um ano marcado pela decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de derrubar o direito ao aborto em nível nacional, a Anistia adverte que o procedimento “continuava sendo penalizado em cinco países” do restante do continente americano, como El Salvador.