Entre os muros da Escola Estadual Thomazia Montoro, onde uma professora foi morta por aluno

Escola tem cerca de 15 professores e 300 alunos do 6º ano ao 9º ano. Relatos de pais, alunos e profissionais da educação indicam para déficit de funcionários e precarização do trabalho. Secretário da Educação, Renato Feder, disse que o governo vai ampliar o programa Conviva, que hoje disponibiliza atendimento psicológico para 500 escolas de uma rede de 5 mil. Lateral da Thomazia Montoro, na Vila Sônia
Arthur Stabile/ g1
Brigas frequentes, bullying, falta de segurança. Localizada em uma rua sem saída, na Vila Sônia, Zona Oeste da cidade de São Paulo, a Escola Estadual Thomazia Montoro está de luto. Entre seus muros pintados de cor salmão, com três portões de azul vibrante, uma professora morreu e outras cinco pessoas ficaram feridas na manhã de segunda-feira (27).
A escola faz parte do Programa de Ensino Integral (PEI), projeto do governo do estado de São Paulo, desde 2021 — no governo de João Doria (então no PSDB). Segundo dados do Censo Escolar, conta com 15 professores e aproximadamente 300 alunos matriculados do 6º ao 9º anos do ensino fundamental.
Fontes ouvidas pelo g1 informaram que a escola conta com três agentes de organização escolar no seu quadro. Eles são conhecidos como AGO. É aquele profissional que abre e fecha a escola, cuida da parte burocrática, vida funcional e prontuário dos alunos. Tudo ao mesmo tempo e recebe cerca de um salário mínimo.
“Deveria ter entre sete e dez agentes numa escola de tempo integral”, disse Chico Poli, do Sindicato dos Diretores da Rede Estadual. Também não havia segurança no portão da escola no momento em que o autor do ataque entrou. Na entrada, há duas câmeras de segurança, protegidas por grades metálicas.
O g1 questionou a Secretaria da Educação nesta segunda-feira sobre os pontos levantados pela escola e aguarda posicionamento.
Em coletiva de imprensa, o secretário, Renato Feder, disse que o governo vai ampliar o programa Conviva, que disponibiliza atendimento psicológico para 500 escolas, de uma rede de mais de 5 mil. Atualmente, são 300 profissionais que prestam atendimento psicológico.
“A gente vai ampliar isso para alcançar todas as escolas. Essa é uma medida muito importante, não é do dia para noite porque a gente precisa treinar e selecionar essas pessoas, mas a gente vai manter os profissionais das diretorias de ensino e ampliar de 500 para 5.000 profissionais dedicados ao Conviva, um por escola”, afirmou Feder.
E.E. Thomazia Montoro, na Vila Sônia
Arthur Stabile
Relatos anteriores indicavam prática de bulliyng
Na internet, a Thomázia Montoro informa que tem estrutura necessária para o conforto e desenvolvimento educacional dos seus alunos. Mas uma busca simples no Google Maps entrega avaliações críticas de ex-alunos e pais que mencionam episódios de bullying e maus-tratos entre os muros da escola.
“Minha filha tem deficiência e ela estudou nessa escola. Estou muito magoada, pois maltrataram a minha filha e agora ela tem que passar em psicólogos para tratar os traumas”, relatou Ana Rodrigues, há doze meses. Segundo um ex-aluno, tudo que era diferente virava alvo de opressão praticada por outros estudantes. “Tentei me suicidar por causa disso, a sorte é que me socorreram a tempo. Eu passei três meses com medo de pisar em uma escola”, relatou.
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Durante todo o dia, o g1 acompanhou a movimentação do lado de fora da escola. Passaram por lá os secretários da Segurança, Guilherme Derrite, e da Educação, Renato Feder. Esteve também o comandante da Polícia Militar, o coronel Cássio Araújo de Freitas, e deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL).
“Essa é a realidade da rede estadual de ensino: a precarização. Lamentável que numa situação como essa, o governador anuncie que vai colocar policiais dentro das escolas. É uma forma disfarçada de voltar ao programa cívico-militar” disse o parlamentar, especialista em educação.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse ao blog da Andréia Sadi que estuda colocar policiais em escolas de forma permanente.
Giannazi diz que levará o caso para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ao solicitar a convocação do secretário da Educação, e pedirá que a Defensoria Pública do estado e o Ministério Público acompanhem o caso da E.E. Thomázia Montoro e políticas públicas do governo Tarcísio voltados para a área.
Movimentação, Promessas e luto
O movimento nos arredores foi diminuindo em torno das 16h30. Com janelas fechadas, quatro carros de funcionários deixaram o colégio no final da tarde. Todos em silêncio. A partir dali, a escola ficaria fechada para aulas. Abrirá somente para perícia.
Na educação, o déficit entre agentes de organização e oficiais administrativos é de 20.574 funcionários no estado de SP, de acordo com dados do Diário Oficial de 2022. O secretário da Educação afirmou em coletiva que já está no cronograma a contratação de 150 mil horas de psicólogos e psicopedagogos.
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Arthur Stabile/g1
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28/03/2023 07:00

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