‘Danone continua comprando soja brasileira’, diz presidente da empresa na América Latina

Diretor financeiro da multinacional, Juergen Esser, afirmou à Reuters, em Londres, que a gigante francesa de laticínios tinha deixado de importar o cereal brasileiro. Fala teve repercussão negativa entre os produtores do Brasil e no Ministério da Agricultura. Imagem de soja.
Prefeitura de Itapetininga/Divulgação
A presidente da Danone na América Latina, Silvia Dávila, disse nesta quarta-feira (30) que a empresa “continua comprando soja brasileira, em conformidade com as regulamentações locais e internacionais”.
A declaração foi feita por meio de uma nota publicada na página oficial da Danone global, no Linkedin.
“Lamentamos as informações incorretas que circulam sobre a Danone e o fornecimento de soja brasileira”, disse Silvia, que também faz parte do Comitê Executivo Global da empresa (veja a nota na íntegra).
A afirmação da representante da América Latina foi feita seis dias depois de o diretor financeiro da multinacional, Juergen Esser, dizer à agência Reuters, em Londres, que a gigante francesa de laticínios tinha deixado de importar o cereal brasileiro.
A fala do diretor financeiro da Danone à Reuters teve uma repercussão negativa entre os produtores de soja do Brasil e no Ministério da Agricultura (saiba mais).
Na nota desta quinta, a presidente da Danone na América Latina não explica a declaração de Esser. Na véspera, a Danone do Brasil já tinha dito que a “a informação veiculada não procede” e que continuava comprando o grão nacional.
Silvia afirma que, na União Europeia, “os produtores de leite obtêm sua ração diretamente de fornecedores de sua escolha” e que “a soja brasileira é um insumo importante para a indústria” da região.
Como tudo começou
Na reportagem da Reuters publicada na última sexta-feira (25), um dia depois da conversa com o executivo global, Esser não explicou os motivos pelos quais a empresa teria deixado de importar soja brasileira.
“Nós não (obtemos soja do Brasil mais)”, afirmou, segundo a agência, acrescentando que a multinacional agora estava “absolutamente” importando soja da Ásia.
O diretor financeiro disse ainda que “nós realmente temos um rastreamento muito completo, então garantimos que levamos apenas ingredientes sustentáveis ​​do nosso lado”, de acordo com a Reuters.
A União Europeia pretende exigir que as empresas do bloco provem que não estão comprando produtos vindos de áreas desmatadas.
A regra prevê multas de até 20% do faturamento, no caso do descumprimento, e deveria entrar em vigor no próximo dia 30 de dezembro, mas poderá ser adiada por 1 ano. A mudança de prazo ainda precisa ser aprovada.
Esser afirmou, segundo a Reuters, que a Danone não está tão exposta ao desmatamento quanto muitos de seus rivais.
A reportagem da agência citou que, em um relatório de 2023, a Danone relatou o uso de 262.000 toneladas de produtos à base de soja para ração e 53.000 toneladas de soja na fabricação de produtos de leite de soja e iogurte de soja.
O Brasil é um dos maiores exportadores de soja do mundo. Em 2022, a China comprou 68% do grão vendido pelo Brasil ao exterior, enquanto 9% foram destinados à a União Europeia.
Reação brasileira
Na terça-feira (29), a Aprosoja – associação dos produtores de soja – disse que a fala de Esser foi uma “demonstração de desconhecimento” do “processo produtivo no Brasil e um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania”.
“Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando na verdade são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil”, disse a associação.
No mesmo dia, o governo brasileiro também se manifestou “em resposta às recentes declarações e ações da Danone e de outras empresas do setor agroalimentar europeu que optaram por interromper a aquisição de soja do Brasil”.
No comunicado, o Ministério da Agricultura criticou “posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias com forte presença de atividade também no mercado brasileiro”.
Mas não citou quais seriam as “outras empresas” que teriam parado de comprar o grão. O g1 questionou o ministério, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Também na terça, a Danone do Brasil divulgou uma nota, assinada pelo presidente da filial, em que afirmava que a empresa continuaria comprando soja nacional.
Nota da Danone
Lamentamos as informações incorretas que circulam sobre a Danone e o fornecimento de soja brasileira. Confirmamos que a Danone continua comprando soja brasileira, em conformidade com as regulamentações locais e internacionais.
Reconhecemos de todo o coração o sólido compromisso do governo brasileiro com a preservação das florestas locais e seus notáveis ​​programas dedicados à proteção da floresta tropical e ao avanço da agricultura sustentável de soja. Também reconhecemos as associações de classe e os agricultores brasileiros que têm se dedicado incansavelmente à sustentabilidade e à inovação no campo.
A Danone tem uma forte presença no Brasil há mais de 50 anos e investe anualmente em ações que priorizam o apoio e o desenvolvimento de grandes e pequenos produtores locais, incentivando práticas mais sustentáveis ​​em toda a nossa cadeia de suprimentos.
A soja brasileira é um insumo importante na cadeia de suprimentos de ração da empresa para produtores de leite no Brasil e continua a ser usada, com a maior parte desse volume sendo disponibilizada aos produtores de leite por meio da Central de Compras da Danone, incluindo processos que garantem sua origem em áreas não desmatadas.
Em outras regiões, como na UE, onde os produtores de leite obtêm sua ração diretamente de fornecedores de sua escolha, a soja brasileira é um insumo importante para a indústria. A Danone trabalha ativamente com os produtores de leite para garantir que a soja seja proveniente de fontes sustentáveis ​​e verificadas, livres de desmatamento, independentemente da origem geográfica. Também incentivamos ativamente os produtores de leite a comprar ração apenas de comerciantes que respeitem seus compromissos ou tenham certificações confiáveis.
Mais uma vez, reafirmamos com orgulho o compromisso inabalável da Danone com todos os nossos stakeholders no Brasil, incluindo fornecedores, produtores, governo, consumidores, clientes e comunidades.
Silvia Dávila, membro do Comitê Executivo Global e Presidente Regional América Latina na Danone.
Nota Danone internacional
Divulgação/LinkedIn
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