O que se sabe sobre a B&B Capital, suspeita de dar golpe estimado em R$ 200 milhões em Ribeirão Preto

Cerca de 500 pessoas se dizem lesadas por escritório de investimentos depois que sócio informou que fechou a empresa e desapareceu. Polícia Civil instaurou inquérito por estelionato. Página de acesso de investidores da B&B Capital para acompanhar transações e rendimentos
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Há uma semana, a Polícia Civil em Ribeirão Preto (SP) investiga a suspeita de estelionato praticado contra um grupo de pelo menos 500 pessoas investidoras no escritório B&B Capital, com sede na cidade. Segundo relato das vítimas, o total do rombo envolvendo as economias delas está estimado em R$ 200 milhões. Elas foram atraídas pela promessa de boa rentabilidade, acima da praticada no mercado.
De acordo com o grupo, o dono da empresa, André Luiz de Jesus Rosa, enviou uma mensagem aos funcionários no dia 21 de março informando que havia “quebrado” e que tinha fechado a empresa de investimentos.
De acordo com funcionários e vítimas, André está desaparecido desde então. Ele deixou um envelope para o irmão, que trabalhava na empresa, e disse que “quebrou”.
A Polícia Civil impôs sigilo sobre a investigação. Um ex-sócio de Rosa também é apontado pelos clientes como responsável pelo escritório.
Nesta matéria, o g1 mostra os seguintes tópicos:
Quando a B&B Capital foi fundada
Quem são os sócios
A empresa pode atuar no mercado?
A empresa responde a outros processos?
O que diz o contrato da B&B com os clientes
O que os clientes afirmam?
Qual crime a Polícia Civil investiga
O que dizem os responsáveis
1.Quando a B&B Capital foi fundada
Segundo a Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), a empresa foi criada em junho de 2014, quando passou a atuar para assessorar e a prestar consultoria financeira e administrativa para empresas.
Na época, o nome de registro era Chrysostomo da Silva & Rosa, uma menção aos sócios Phelippe Augusto Chrysostomo da Silva e Andre Luiz de Jesus Rosa. O escritório ficava na Rua Marajó, 644, Vila Virgínia, zona Oeste de Ribeirão Preto.
Em 2020, o nome da empresa foi alterado para Jesus Rosa Consultorias, mas ela já era conhecida como B&B Capital.
O escritório funcionava até semana passada no bairro City Ribeirão, zona Sul da cidade.
2.Quem são os sócios
Desde dezembro 2020, a B&B Capital tem André Luiz de Jesus Rosa como único sócio da empresa. Segundo documento emitido pela Jucesp, ele passou a exercer a administração do escritório e a fazer retiradas mensais, a título de pro-labore, que é a remuneração paga em casos de sociedades.
Ainda de acordo com o documento, Phelippe Augusto Chrysostomo da Silva se retirou da B&B no fim de 2020. No entanto, clientes afirmam que ele continuava no negócio. Contratos assinados em 2021, por exemplo, foram firmados em nome da Chrysostomo da Silva & Rosa.
Phelippe Augusto Chrysostomo da Silva (à esquerda) e André Luiz de Jesus Rosa (à direita), sócios da B&B Capital em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/Redes Sociais
3.A empresa pode atuar no mercado?
De acordo com a Comissão de Valores Monetários (CVM), entidade vinculada ao Ministério da Fazenda que fiscaliza, normatiza, disciplina e desenvolve o mercado de valores mobiliários no Brasil, a B&B Capital e os sócios não têm autorização para exercício da atividade.
Em dezembro de 2016, a CVM determinou a suspensão da oferta de serviço de administração de carteira pela empresa e seus sócios.
Em nota publicada no site na época, a CVM informou que os sócios Rosa e Chrysostomo estavam sujeitos à multa de R$ 5 mil por descumprimento da determinação.
A CVM também orientou investidores a procurarem o serviço de atendimento ao cidadão da autarquia caso recebessem propostas da empresa ou dos sócios dela para aplicações financeiras.
Segundo a CVM, todos os participantes do mercado que possuem registro na autarquia podem ser consultados no Cadastro Geral de Regulados, disponível no site da comissão (clique ao lado para acessar).
Fachada da B&B Capital, no bairro City Ribeirão, zona Sul de Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
4.A empresa responde a outros processos?
Em 2017, o Ministério Público Federal (MPF) moveu ação penal na Vara Federal de Ribeirão Preto contra a B&B Capital por causa do exercício irregular da atividade. A denúncia partiu da própria CVM, que constatou a continuidade da empresa mesmo após a suspensão por falta de credenciamento.
A prática é considerada crime e está prevista no artigo 27-E da lei nº 6.385/76, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e que trata inclusive da criação da CVM.
Na época, a CVM constatou que pelo site www.bbcap.com.br, atualmente fora do ar, a empresa oferecia operações a fim de rentabilizar os recursos de investidores via mercado de capitais, sendo a Bolsa de Valores citada de forma expressa como meio para obtenção da rentabilidade.
Como tratava-se de crime de menor potencial, foi feita proposta de transação penal a Chrysostomo pela prática de crime contra o sistema financeiro nacional. O réu aceitou a proposta de suspensão condicional do processo, cumpriu as condições impostas e o pagamento de R$ 2 mil revertidos a uma entidade assistencial. A ação foi extinta em abril de 2018.
Em dezembro do mesmo ano, uma nova denúncia apontou que Chrysostomo continuava na atividade e uma nova ação foi aberta pelo MPF em 2019, desta vez incluindo André Rosa.
Em nota enviada ao g1, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) informou que o processo está atualmente em fase de produção de provas. De acordo com o tribunal, finalizada a etapa, a ação vai às alegações finais e, em seguida, à conclusão para julgamento e sentença.
Já em 2021, a Polícia Civil de Ribeirão Preto instaurou inquérito par apurar denúncia de crime contra a economia popular. De acordo com a polícia, os sócios da B&B Capital ofereciam investimentos com remunerações fora da realidade do mercado, e sem o devido credenciamento na CVM.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para saber sobre o andamento do inquérito e foi informado que o caso é investigado como estelionato. Ainda segundo a pasta, a polícia realiza as diligências cabíveis para esclarecer os fatos. A investigação também está sob sigilo.
5.O que diz o contrato da B&B com os clientes
As pessoas interessadas em aplicações financeiras pela B&B assinavam um contrato de prestação de serviços de administração de investimentos.
A empresa deveria fornecer consultoria e assessoria financeira, com finalidade de rentabilizar os recursos investidos pelo contratante utilizando-se de operações no mercado financeiro através da BMF Bovespa e produtos de investimentos em renda fixa.
Para isso, o escritório cobrava 50% da rentabilidade gerada mensalmente. De acordo com o contrato, a B&B garantia um repasse mínimo mensal de 2,5% sobre o capital investido. Para início da operação, o cliente deveria investir a partir de R$ 10 mil, transferidos para a conta da empresa.
Contrato da B&B Capital garante rendimento mínimo mensal de 2,5% ao investidor
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A B&B Capital também garantia o resgate total ou parcial do capital, sem qualquer tipo de desconto para o cliente. Para sacar, o investidor deveria comunicar a empresa sobre o valor até o dia 5 de cada mês, e o depósito seria feito até três dias úteis depois.
Extratos de movimentações de clientes obtidos pelo g1 mostram a rentabilidade de clientes.
Em um mês, uma aplicação inicial de R$ 100 mil tinha rendido R$ 2.766,85 — 2,76%.
Outro investimento, de R$ 91.685,59, rendeu R$ 1.746,61 em três semanas, sendo que os rendimentos chegaram a ser atualizados até três vezes na mesma semana.
Extrato de rendimento de cliente da B&B Capital em Ribeirão Preto, SP
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Extrato de rendimento de cliente da B&B Capital em Ribeirão Preto, SP
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6.O que os clientes afirmam
Na quinta-feira (23), clientes começaram a procurar a Polícia Civil depois que acessaram o site da B&B Capital e não conseguiram mais consultar os valores investidos, fazer retiradas ou aportes.
Segundo eles, boatos davam conta de que André Rosa tinha sumido com todo dinheiro investido pelos cerca de 500 clientes.
O comerciante Roberto Padilha diz ter perdido R$ 500 mil. Ele era cliente do escritório há quatro anos, mas tinha conhecimento do funcionamento da empresa há pelo menos oito. Segundo ele, as aplicações eram feitas em diversos segmentos, entre eles ações na Bolsa de Valores e bitcoins, como forma de não correr risco em deixar o dinheiro em apenas uma operação.
“Os resgates são feitos com sete dias de antecedência. Eu fiz o resgate dia 13 de março. Era para ter caído no dia 20, mas não caiu dia 20, dia 21. Dia 22 fui até o escritório para ver o que estava acontecendo. Chegando lá me deparei com várias pessoas na mesma situação”, disse Padilha.
Em um grupo de WhatsApp, um funcionário informou que André, único responsável pela administração do dinheiro, tinha fechado a empresa e desaparecido desde terça-feira (21).
“Infelizmente nenhum funcionário sabe maiores detalhes sobre seu paradeiro. Deixou um aviso que não possui mais o capital aportado/investido e desapareceu. Deste modo, estou posicionando vocês quanto ao ocorrido. Não tenho ideia do tamanho do prejuízo, pois ele era o responsável por gerir o dinheiro”, escreveu o funcionário.
Por WhatsApp, funcionário da B&B Capital explica aos clientes que o dono disse que fechou a empresa em Ribeirão Preto, SP
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O irmão de André, Alex Rosa, contou à polícia que antes de sumir, André deixou um envelope com senhas e uma mensagem dizendo que tinha ‘quebrado’. Alex é funcionário da B&B Capital.
Segundo o advogado Daniel Rondi, que representa Alex, as senhas eram para acesso aos investimentos dos clientes e também para um e-mail onde havia um texto explicando que o escritório havia quebrado e deixado os investidores sem os rendimentos.
“Tinha uma mensagem dizendo que sentia muito, que a empresa não tinha mais dinheiro e o dinheiro que tinha era o dinheiro que estava na conta naquele momento e que ele havia quebrado a saúde financeira. A gente já imaginou que poderia ser algum crime de sequestro, ou algo do tipo, estamos falando de grandes volumes. Corremos na casa desse irmão e a funcionária dele disse que ele havia saído de casa levando pertences pessoais. Aí entendeu-se que a mensagem era verdadeira. Fomos à delegacia, procuramos as autoridades públicas, o próprio Ministério Público para que maiores danos não acontecessem”, explicou Rondi.
7.Qual crime a Polícia Civil investiga
A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar a suspeita de estelionato. A investigação corre em sigilo.
Pelo menos 16 ações foram protocoladas no Fórum de Ribeirão Preto até agora com pedidos de clientes lesados para bloqueio de bens de Rosa, Chrysostomo e da B&B Capital.
Polícia Civil de Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
O promotor de Justiça Luiz Henrique Passini disse que a investigação não deve se ater ao âmbito criminal.
“Observamos que existem várias áreas de atuação. Existe a área do consumidor e a criminal, que estamos apurando. Estamos falando de estelionato, organização criminosa e outros que ainda vamos apurar. Mas, basicamente, foram esses crimes. O indivíduo teve vantagem em prejuízo de inúmeras pessoas, induzindo-as ao erro. Estamos apurando a conduta abusiva da empresa”, disse.
Ainda segundo o promotor, as vítimas devem procurar a Polícia Civil para registar boletim de ocorrência.
“Não foi só em Ribeirão Preto que isso aconteceu; no Estado de São Paulo e até fora. Estamos fazendo coleta de documentos e informações para apurar isso. É muito grave porque muitas pessoas vão ser lesadas”, afirmou.
8.O que dizem os responsáveis
Por telefone, o g1 tentou contato com Phelipe Chrysostomo e André Rosa, mas nenhum dos dois foi encontrado para comentar as acusações até a publicação desta matéria.
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29/03/2023 08:03

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