Julgamento será retomado na quarta-feira, às 8h30, com depoimentos de mais nove testemunhas. Outros seis acusados já foram julgados e condenados. Previsão é de que o júri ocorra até a quinta. Mais três réus por atacar judeus em 2005 em Porto Alegre são julgados
O primeiro dia de julgamento de mais três réus acusados de atacar um grupo de judeus no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, em 2005, teve os relatos das vítimas e o início dos depoimentos das testemunhas. Valmir Dias da Silva Machado Júnior, Israel Andriotti da Silva e Leandro Maurício Patino Braun são acusados de tentativa de homicídio qualificado (motivo torpe, meio cruel, recurso que dificultou a defesa dos ofendidos).
O advogado José Paulo Schneider, que representa Israel Andriotti da Silva, avaliou o primeiro dia de júri como “extremamente produtivo e importante para demonstração da inocência”. Segundo Schneider, “os áudios e vídeos transmitidos comprovam cabalmente a injustiça por ele suportada há 18 anos”.
O advogado Manoel Castanheira, que atua na defesa de Valmir Dias da Silva Machado Júnior, também fez uma avaliação positiva do início do julgamento. Conforme Castanheira, “foi um dia proveitoso, onde se pode coletar a palavra das vítimas e de algumas testemunhas, que corroboram com a defesa do acusado, desde o inquérito policial, até o presente momento”.
O g1 não conseguiu contato com o advogado Rodrigo Noble, que defende Leandro Maurício Patino Braun, até a última atualização desta reportagem.
Depoimentos
O primeiro a falar nesta terça-feira (28) foi Rodrigo Fontella Matheus. Por videoconferência, ele relatou que na época estava conversando com amigos na calçada, na esquina das ruas Lima e Silva e República, quando foram atacados.
”O que aconteceu foi um atentado antissemita, racista para tentar nos matar”, afirmou a vítima.
O grupo atacado usava quipá (espécie de chapéu em forma de circunferência). Rodrigo diz que não lembra das agressões sofridas que só acordou no hospital. Ele foi ferido por golpes de faca, além de socos e pontapés.
A segunda vítima ouvida foi Edson Nieves Santanna Júnior. Ele também prestou depoimento por videoconferência.
Edson tinha 19 anos na época dos fatos. Ele levou uma facada na barriga e outra em um dos antebraços. O homem foi socorrido pelo irmão e a cunhada, que estavam dentro do bar.
”Rezo todos os dias, sou grato pela oportunidade de estar vivo. Nenhum médico acreditava que não pegou em nenhum órgão. Isso fortaleceu a minha fé, todo 8 de maio comemoro por estar vivo!”, relembrou.
Alan Floyd Gipsztejn foi a terceira vítima a falar. Ele foi ouvido pessoalmente. Não há detalhes sobre o teor do que foi relatado, pois o depoimento foi concedido sem a presença de pessoas no plenário.
Testemunhas
Durante a noite, foram ouvidas duas testemunhas. Ambos eram estudantes de medicina na época dos fatos e estavam no local onde o crime ocorreu.
Hoje médicos, os dois afirmaram que viram Rodrigo Fontella Matheus sendo agredido e auxiliaram nos primeiros atendimentos à vítima.
O primeiro médico prestou depoimento por videoconferência. Chamou a atenção dele a violência dos agressores.
”Parecia uma cena de filme de terror. Tinha um grupo de pessoas uniformizadas, atacando um cara [Rodrigo Fontella Matheus], chutando muito. Outro grupo fazia barreira, ameaçando quem tentasse ajudar. Xingavam a pessoa agredida. Eles não paravam”, disse a testemunha.
A outra testemunha ouvida falou de forma presencial. Ele disse que, ao ver uma pessoa ligando para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pediu para dar continuidade ao contato.
”Me dei conta de que as pessoas que agrediam estavam com similaridades. Sapatos, roupa, calças camufladas e cabeças raspadas. Ao chão, ao lado da pessoa agredida, tinha um quipá e um caderno com escritos em hebraico. Foi quando percebemos que era um crime racial”, relembrou o hoje médico.
O julgamento será retomado na quarta-feira (29), às 8h30, com os depoimentos de mais nove testemunhas. A sessão é presidida pela juíza Lourdes Helena Pacheco da Silva, titular do 2º Juizado da 2ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre.
Júri de três réus acusados de atacar judeus em 2005 no RS
Juliano Verardi/TJRS
O caso
Segundo o Ministério Público, na madrugada do dia 8 de maio de 2005, Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn caminhavam pela esquina das ruas Lima e Silva e República, no bairro Cidade Baixa, quando foram atacados por um grupo de skinheads, de ideologia neonazista.
As vítimas usavam quipás (pequeno chapéu em forma de circunferência, usado pelos judeus). O grupo de agressores estava dentro de um bar quando avistaram os rapazes em frente ao estabelecimento. Rodrigo Fontella Matheus foi golpeado com arma branca, socos e pontapés.
Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn também foram atacados pelo grupo, mas conseguiram escapar e buscaram abrigo dentro de estabelecimentos.
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