Dos 10 acusados de participação no crime, nove foram julgados. Apontado como mandante, o juiz Antônio Leopoldo Teixeira não foi julgado. Morte de juiz Alexandre Martins completa 20 anos
Em 24 de março de 2003, foi assassinado o juiz Alexandre Martins, em Itapoã, em Vila Velha. Ele teve uma atuação marcante contra o crime organizado no Espírito Santo e, segundo a investigação, foi morto por esse motivo. 20 anos depois, nem todos os réus foram julgados.
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“Se eu tivesse que sintetizar meu filho com uma palavra eu diria brilhante!”
Alexandre Martins de Castro Filho, nasceu no Rio de Janeiro, mas construiu carreira como Juiz Criminalista no Espírito Santo.
Alexandre Martins de Castro, pai do juiz Alexandre Martins
Reprodução/TV Gazeta
“Ele era honesto, ele era um juiz cometente, capaz, ele era rápido nas decisões, extremamente corajoso e extremamente simples. Agora, na hora de julgar ele tinha a mão pesada”, lembrou o pai do juiz.
Alexandre estava em evidencia, integrava a força tarefa de combate ao crime organizado do Espírito Santo. Trabalho que ele também dividia com o juiz Carlos Eduardo Lemos.
Alexandre e Carlos Eduardo eram juízes auxiliares na vara de execuções penais, da qual o juiz Leopoldo Teixeira era o titular.
Carlos Eduardo Lemos, juiz que trabalhou com Alexandre Martins
Reprodução/TV Gazeta
“Começamos a identificar várias irregularidades, principalmente a transferência de presos muito perigosos ligados ao tráfico e grupos de extermínio. Tanto eu quanto o Alexandre não tínhamos personalidade pra deixar aquilo passar, fingindo que a gente não estava vendo”, falou o juiz Carlos Eduardo Lemos.
As irregularidades foram denunciadas. De acordo com documento, o juiz Leopoldo Teixeira coagia funcionários. Eles eram obrigados a emitir, a pedido do juiz, pareceres favoráveis para soltar presos, por medo de perderem os empregos.
Os juízes Alexandre e Carlos Eduardo começaram a receber ameaças.
“O que mais me preocupou não foram as ameaças, foram, na verdade, cartas e fax que nós recebemos, na época – todos foram juntados ao processo -, de pessoas nos informando que seríamos mortos”, lembrou o juiz Carlos Eduardo Lemos.
“Na véspera [do assassinato], que foi um domingo, eu disse pra ele tomar cuidado, porque as ameaças estavam aumentando muito, e que eu estava com medo que acontecesse alguma coisa. Ele riu e falou assim: ‘meu pai, você nunca me ensinou a ter medo. Não precisa ficar com medo não, que não vai me acontecer nada’, e aconteceu, no dia seguinte”, recordou o pai de Alexandre.
O juiz Alexandre Martins Filho tinha acabado de estacionar o carro na Rua Natal, em Itapoã, às 8h. Mas nem chegou a entrar na academia e foi assassinado a tiros no meio da rua.
Segundo a polícia, três tiros acertaram a cabeça, o ombro e o peito do juiz.
A morte de Alexandre causou comoção no estado e teve repercussão no País.
Na época, o atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Espírito Santo (OAB-ES), José Carlos Risk Filho, era aluno do juiz Alexandre.
“No fundo, todo mundo sabia que o assassinato dele não tinha sido porquê ele estava com carro chique. Ele era um homem assassinável [sic]. Então veio, naquele primeiro momento, o sentimento de que ele tinha sido propositalmente assassinado por alguém que ele incomodava: o crime organizado, os líderes da época. Alguém que ele incomodou por fazer Justiça”, disse José Carlos Risk Filho.
As investigações começaram no mesmo dia da morte do juiz.
“O Alexandre foi morto pela manhã, mas já no mesmo dia, por volta de 15h, eu já estava autuando duas pessoas por haver participado [do crime], pelo menos uma facilitação”
Os executores foram identificados e presos logo em seguida. Os intermediários do crime, também. Mas faltavam os mandantes.
Além da confissão, o assassino contou à polícia que foi contratado para matar o juiz. O principal suspeito de ser o mandante ou intermediário era o coronel Walter Gomes Ferreira, que foi transferido para o Acre. O juiz Alexandre teve participação efetiva na transferência.
Coronel Walter Gomes Ferreira, condenado pela morte do juiz Alexandre Martins
Reprodução/TV Gazeta
“Essa decisão foi dada pela Vara de Execuções Penais, e ela vai ser cumprida”, disse o juiz Alexandre em uma entrevista na época.
A Secretaria de Segurança do estado, já durante o início das investigações, afirmava que os indício do envolvimento do coronel no assassinato do juiz eram fortes e apontava o juiz Antônio Leopoldo Teixeira como suspeito de encomendar a morte de Alexandre Martins.
Condenados pela morte do juiz Alexandre Martins
Reprodução/TV Gazeta
20 anos se passaram e, dos 10 acusados de participação no crime, nove foram julgados:
Odecir Martins da Silva Júnior (Lombrigão) e Giliard Ferreira de Souza, apontados como os executores, foram condenados, presos e já foram soltos.
Os sargentos Heber Valêncio e Ranilson Alves da Silva , além de Fernandes Reis (Fernando Cabeção), André Luiz Tavares (Yoxito) e Leandro Celestino dos Santos (Pardal), foram condenados por terem intermediado o crime.
Cabeção foi morto em 2020. Os outros já foram soltos.
Dos três apontados como mandantes, apenas o coronel da Polícia Militar Walter Gomes Ferreira foi condenado e preso.
Cláudio Luiz Andrade Batista (Calu) foi absolvido.
20 anos depois do crime, o juiz Antônio Leopoldo Teixeira não foi julgado. A defesa dele recorreu várias vezes para adiar o julgamento.
“O que falta para ele é o julgamento e ele ter coragem para enfrentar o tribunal do júri e parar com os recursos que ele fica promovendo para protelar, pra procrastinar, pra ganhar tempo e pra buscar a prescrição, que é a única forma que ele tem de não ser condenado”, disse o pai de Alexandre Martins.
O que toda sociedade capixaba espera é que acabe o julgamento, seja para condená-lo ou absolvê-lo. o processo tem que acabar”
20 anos depois do crime, o pai do juiz Alexandre ainda espera um desfecho.
“Além da saudade, eu tenho um orgulho muito grande de ter sido pai dele, e sempre agradeço a Deus a oportunidade que eu tive de conviver com ele por 32 anos. Gostaria de conviver mais, mas os 32 anos valeram uma vida”, falou o pai do juiz.
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