Levantamento feito por plataforma virtual de cursos de idioma revela um costume pouco educado dos brasileiros. Palavrões são comumente utilizados em momentos de estresse ou desabafo
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Eles quase sempre aparecem no meio de um desabafo. Entre uma roda de amigos, na mesa de um boteco, são os que mais marcam presença. Durante um desentendimento, uma discussão acalorada, pode ter certeza que eles surgem em algum momento: os palavrões são do caral**.
Não há dúvidas de que todo brasileiro tenha passado por situações como essas. Não tem nada a ver com educação. É cultural. São cenários como esses que fizeram com que Belo Horizonte aparecesse em segundo lugar entre as capitais com mais pessoas “bocas sujas” do Brasil, ao lado da capital paulista.
É o que demonstra uma pesquisa muito pic* feita pela Preply, uma plataforma virtual que conecta professores e alunos para a aprendizagem de idiomas. Segundo o levantamento, moradores de São Paulo e BH falam, em média sete palavrões por dia. Ficam atrás de Fortaleza, Rio de Janeiro e Brasília, empatadas no topo do ranking (veja na tabela abaixo). A pesquisa considerou 15 cidades brasileiras.
A metodologia desse estudo não foi divulgada, mas o g1 buscou um especialista bem fod* para comentar o resultado. O professor Sérgio Gomide, do Departamento de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG).
“O palavrão, geralmente, expressa obscenidades. No ponto de vista linguístico, a questão passa pelo valor que a gente atribui. O que a gente considera palavrão tem a ver com representações sociais, que variam conforme cada época”, contou Sérgio.
O professor também fala de situações e lugares em que o palavrão é aceito e bem-vindo. Torcedor que vai ao estádio, com certeza, vai ouvir bastante e dos mais variados. A mãe do “juizão” sempre é lembrada. Se a gente subir o tom, descobre uma problemática.
É que, segundo Sérgio, os palavrões estão ligados a uma questão de gênero, na forma como a nossa sociedade representa a mulher. A ofensa é direcionada, em sua ampla maioria, à mãe de alguém.
Em outro exemplo, um deles faz referência ao próprio órgão sexual feminino. E isso é tão claro na mente do brasileiro que este repórter tem certeza que o leitor sabe exatamente quais são.
Se a intenção é ofender um homem, o brasileiro costuma fazer isso feminilizando – ou mais grave – usando de homofobia.
Voltando para o ponto mais recreativo, o professor Sérgio Gomide explica que o palavrão também não é só ofensivo. Ele serve para enfatizar, para expressar espanto ou alívio. Por parecer tão óbvio, muita gente nem nota que quase todos estão associados à sexualidade humana.
O brasileiro que quer encerrar um diálogo de forma enfática só precisa lançar um “teu c*”. Se tá insatisfeito com alguma coisa ou situação, já sai perguntando “que por** é essa?”. E se for uma questão de intensidade, é só falar que é “fod* pra cacet*”.
Na opinião do professor Sérgio Gomide, se o mineiro – de modo geral – fala tanto palavrão, é preciso considerar o contexto.
“Tem que se considerar que eles são instalados em um contexto afetivo também. Falados para amigos, não significa intolerância, falta de educação ou violência”, avaliou.
Veja o ranking entre 15 capitais
* Número médio de palavrões diários, por pessoa, em cada cidade.
Cada parágrafo aqui foi escrito em Belo Horizonte. Então, caso tenha encontrado mais de sete palavrões, o repórter se reserva no direito de dividir a conta com o especialista que comentou esta reportagem.
É que, quando encerramos a entrevista que resultou nessa matéria, de forma muito simpática, Sérgio Gomide falou sobre a expectativa dele por este texto. “Vai ser uma reportagem muito fod*!”
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